F...
A vídeo-performance “F...” é o retrato de todas as mulheres comuns, desconhecidas e que lutam diariamente, a partir de um círculo individu- al. A partir do contexto da Covid-19, espelhado no formato da perfor- mance não falada, onde só se ouvem sons do exterior, são representados diferentes temas e aspectos da vida feminina, de forma crua, desde a maternidade, amamentação e as alterações que esta opera nos corpos, ao trabalho, e à preocupação com a beleza e com a maquilhagem.
É o presente da vida da mulher que, a partir de diversas metáforas, com elementos autocolantes que simulam cirurgias estéticas, aborda a preocupação com o corpo, sujeita pela sociedade, com uma pilha de livros que cai constantemente, trata a subrepresentação das mulheres na história e a construção social do seu papel, com uma boneca, faz uma alusão à clara distinção de género existente ainda nos brinquedos infantis, e com um cabide que é cortado em pedaços, a objetificação simbólica da violência que vivem as mulheres que não querem ou não podem ter um filho e são proibídas de abortar.
Ao longo da obra, surgem referências feministas tanto num ecrã de computador, em palestras, textos, e músicas, bem como num mural onde, com luvas rosa, a artista sobrepõe a figuras masculinas como Artistóteles, Platão e Salazar, importantes figuras femininas como Judith Butler, Varda Agnès, Yoko Ono ou Angela Davis.
F... nasceu da vontade de questionar o lugar das mulheres na criação artística contemporânea e na História da Arte. Pensado inicialmente para palco, F... foi convertido num projeto online e transformado num objeto artístico em formato de vídeo, onde as três criadoras, trabalhando a partir do seu corpo, se propõem refletir em torno de conceitos como o lugar de fala, a invisibilidade e o silenciamento das mulheres. Trata-se de uma proposta essencialmente visual e imagética, onde se procura desconstruir a relação da Cultura Visual com as ideias de feminino, feminilidade, ideal de beleza e objetificação, em busca de “um espaço onde possamos respirar e colocar em cena sem restrições aquilo que somos. E fazê-lo por uma simples razão: porque existimos.”