Miguel Ângelo, Criação de Eva
As narrativas da Creação e da Queda do Homem (presentes no Genesis) foram partircularmente interpretadas de forma inferiorizante para a mulher tanto na religião Cristã, como na Judaica, retratando a Mulher (Eva) como uma personagem “secundária”, uma ajudante, que provém e depende totalmente do Homem (Adão), e que é a razão do pecado no ser humano. A posição da mulher na antiga sociedade Israelita também é justificada com estas narrativas: corroboram o dever da mulher ser submissa, e não lhe poder ser dada uma posição de independência seja no contexto social, familiar, político, entre outros.
No entanto, segundo a narrativa da Creação, Deus cria o homem e a mulher sem distinção de género, apenas à sua imagem, com igualdade de direitos e liberdades, em harmonia com a natureza. E o termo “ajudante”, usado por Deus como a razão da criação da mulher (para “ajudar” o homem) não indica inferioridade, muito pelo contrário. Contudo, para o homem, a mulher é vista como um apêndice, que lhe pertence, que é descartável e substituível e nunca como um ser igual, que nasce com ele. O facto de Eva ter sido o último ser criado também reforça as ideias de inferioridade feminina, mas a verdade é que Deus a criou porque algo faltava, e só depois da sua criação é que a Terra estava completa. Assim, as escrituras aos olhos das civilizações da época, certamente atendem às condições sociais em que se vivia, criando preceitos que ainda são discutidos séculos mais tarde.
O interesse da análise das doutrinas religiosas, como a Bíblia e o Corão, está inteiramente assente no facto de serem as bases primordiais da nossa sociedade e cultura. Claro está que, as interpretações destas ao longo dos séculos muito influenciaram o status da mulher face ao homem, e portanto ao regime patriarcal. Neste livro, o autor analisa vários tópicos relacionados com a integração da mulher na sociedade, e como alguns preceitos provêm das interpretações erradas das escrituras das várias religiões, e que foram prolongadas, de geração em geração, até aos dias de hoje.
HEGER, Paul (2014). “Women in the Bible, Qumran and Early Rabbinic Literature Their Status and Roles”. Brill