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Coisa Mais Linda, frame

A série passa-se no Rio de Janeiro de 1959, quando a cidade ainda era a capital do Brasil e o centro das atenções culturais da época. O surgimento da Bossa Nova é um dos assuntos principais da série e responsável por criar parte da identidade da produção. A chegada de Maria Luiza à cidade é parte da inspiração para outras três heroínas: Adélia, Ligia e Thereza.

Procurando atrair atenção do público para o feminino, a série conta a história de quatro mulheres que vivem os seus processos de emancipação, ligadas pela amizade e pela música. É, então, uma boa história com um cenário atraente e riquíssimo explorado pelas protagonistas de carácter muito forte e especial. A intenção é mostrar tudo o que passava uma mulher da década de cinquenta dentro e fora de casa, no ambiente de trabalho ou na ausência dele. E, deste modo, e a série apresenta uma quantidade de situações machistas, cheia de frases feitas que servem para irritar o publico feminino e não apenas contar uma história que o “agrade”.

Devo destacar o momento em que Maria Luiza e Adélia têm um confronto e as diferenças entre elas são deixadas mais claras. O tema é muito delicado e importantíssimo dentro do feminismo. Feminismo branco e feminismo negro coexistindo, entendendo suas diferenças, particularidades e encontrando um modo de seguir lado a lado sem silenciar o outro. O texto da cena é tão forte e extremamente autêntico apresentando uma produção com algo para mostrar e discutir.

Ligia é uma mulher de alta classe, cheia de vida, que sonhava em ser cantora, mas que abriu mão de sua paixão por causa do marido. Ao ver Maria Luiza, sua melhor amiga de infância, realizando algo impossível para as mulheres da época, questiona-se se poderia ou não fazer o mesmo. Esta personagem vive um casamento padrão, ou seja, casamento em que a mulher deixa de lado qualquer perspetiva profissional e tem como função apoiar o marido. Neste contexto ocorre uma das cenas mais difíceis de assistir, é na sua relação matrimonial que se vêm exemplos de violência doméstica, física e emocional.

Thereza é das quatro a única que não se encaixa no que é esperado para uma mulher da época. Tem um casamento aberto, é bissexual, feminista e única mulher trabalhando em uma revista feminina. É dela as melhores falas, melhores reações e é impossível não querê-la como amiga, mas não consegui não me decepcionar e ficar com uma ultima imagem negativa da personagem. A composição de camadas é importante ao construir a personalidade de uma personagem feminina, e é tudo o que nós brigamos para que elas tenham, mas a decisão de esconder nessa personagem o desejo arrasador de ser mãe me pareceu um erro. Não que mulheres não possam ter esse desejo, mas porque narrativamente isso foi usado para desconstruir a personalidade de Thereza, que era um de seus pontos fortes.

Maria Luiza é a protagonista que abandona a casa onde vivia com os seus pais e parte numa aventura de descoberta pessoal evoluindo ao longo da trama.

Adélia é a personagem com o passado mais importante. Uma personagem carismática com uma personalidade cheia de vida. Ela é uma mulher negra dos anos cinquenta, mãe solteira, moradora do morro, que trabalha muito para se sustentar a si e à filha.

A série propõe-se a colocar as mulheres num lugar alto, celebrando mulheres brancas, negras, ricas, pobres, bissexuais, que tem coragem de discutir temas como violência doméstica, aborto, ambição profissional, feminismo branco e negro.

É sobre mulheres e as suas descobertas, os seus erros, os seus acertos, as suas independências emocionais e profissionais e tudo aquilo no meio disto.

Criada por Giuliano Cedroni e Heather Roth, Coisa Mais Linda é uma produção brasileira da Netflix com temática feminista ambientada numa década conservadora e conta já com duas temporadas.

"É uma história sobre mulheres, contada por homens, pela visão de homens."

Coisa Mais Linda

All I'm askin' is for a little respect when you come home

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