Carquejeiras do Porto
O documentário das Carquejeiras do Porto, de Arminda Sousa Deusdado, é a recuperação de memórias de mulheres que, tal como tantas outras, foram e estão esquecidas. É um espelho verídico da violência e crueldade do seu trabalho que, do início até meados do século XX as carquejeiras tiveram uma marca tão fundamental quanto penosa na sociedade portuguesa. Transportavam sofregamente a carqueja que aparava os fornos que coziam o pão da cidade e que aquecia as casas burguesas.
Há muito sofrimento “escondido” nesta história. “Foi realmente um drama silencioso, em que as mulheres sofriam silenciosamente”, explica Maria Arminda Santos, autora do monumento de homenagem recente- mente erguido no cimo da rampa onde outrora caminharam estas mulheres. “Elas vinham desde junto do rio, subiam a calçada e infiltravam-se ainda pela cidade. Iam para as Antas, Carvalhido, mal alimentadas. À noite os maridos davam-lhes maus-tratos, para além de estas mulheres terem a responsabilidade e a preocupação dos filhos. Eram muitas vezes o pão que se punha na mesa”, adianta.
Tal como estas mulheres, existirão muitos mais casos idênticos ou até piores ao longo de um país que, até há bem pouco tempo, não reconheceu direitos fundamentais a estas pessoas, com base no seu género.
O drama silencioso e silenciado de mulheres esquecidas que desempenharam uma tarefa fundamental para o desenvolvimento da cidade do Porto. Documentário de Arminda Sousa Deusdado sobre as carquejeiras do Porto, mulheres esquecidas que durante o séc. XIX início do séc. XX faziam chegar à cidade a carqueja que descarregavam dos barcos acostados às margens do Douro. Numa época em que a sobrevivência era uma verdadeira luta, mulheres de todas as idades viam-se obrigadas a carregar às costas até 60 quilos de carqueja para obterem o sustento diário. A tarefa hercúlea era feita à chuva ou ao sol, sem folgas nem férias. Um trabalho duro e desumano, num sacrifício ignorado e esquecido de “supermulheres” de antigamente.