Postal da exposição colonial do Porto
Esta começa por referir que o álbum é um objeto que resulta da seleção de momentos memoráveis feita por quem está a fazer a compilação do mesmo. As descrições das fotografias abrangem figuras de soldados brancos e de mulheres negras, semi-nuas, onde os soldados estão a tocar nos seios ou na zona púbica das mulheres.
Estas imagens poderão ser um bom retrato das realidade vividas por estas mulheres, fruto de uma extrema sexualização racial do corpo das colonizadas, de violações e explorações de outro tipos. As fotografias e a violência sexual seria como uma performance de afirmação do poder colonial e supremacia do homem branco.
A metrópole portuguesa era muito católica e conservadora, condenando a nudez e controlando a sexualidade feminina, contudo, a circulação de imagens de mulheres negras semi-nuas tornou-se comum, quer no espaço público, quer no espaço privado, não sendo raro ver estas fotografias nos jornais, postais e exposições. Em 1934, na exposição colonial do Porto, o caso de “Rosita”, uma mulher trazida para Portugal devido ao seu corpo peculiar, ficou bastante conhecido e, inclusive, muitos autores concordam que o sucesso da exposição se deveu à exibição dos corpos negros semi-nus. Deste modo, a mulher negra era símbolo de prazer sexual, do ultramar e dos selvagens, sendo que as relações sexuais com elas eram social e culturalmente aceites, no entanto, se fossem com mulheres brancas seria considerado pornografia.
Por fim, os Colonizadores estabeleceram um sistema económico e social em que os nativos saíam muito prejudicados, esta assimetria racial levou algumas mulheres negras a assumirem a prostituição para manter a subsistência do povo e como uma forma de navegar entre estratos sociais e económicos.
A realidade vivida pelas mulheres negras nos “paraísos tropicais” do perverso império português
Júlia Garraio concebe um discurso acerca do imaginário das mulheres negras no colonialismo português através da análise da exposição Retornar: Traços de Memória, constituída por fotografias colonialistas de álbuns de família.
GARRAIO, Júlia, Perdidas na exposição? Desafiar o imaginário colonial português através de fotografias de mulheres negras;