Estas imagens do corpo feminino colonizado eram uma forma de controlo das populações e de sexualização das mulheres anónimas que figuravam nelas. Assim, a mesma metáfora era sempre comunicada: o homem branco português conquista o corpo “selvagem” da mulher negra colonizada, tornando-a disponível a tudo e a todos. Curiosamente as imagens de mulheres negras nuas não eram consideradas pornográficas ou de carácter erótico, antes sim quase de carácter publicitário do delírio imperialista português, em contraste com as imagens íntimas de mulheres brancas que eram já consideradas imagens de carácter depravado, consolidando-se uma relação clara de domínio sobre o corpo racializado.
A banalização da fotografia de mulheres negras na propaganda colonial, esconde subtilmente a violência racista e machista por de trás dela, um exemplo claro desta mesma banalização é o caso de Rosinha, uma mulher negra que foi objetificada na Exposição Colonial do Porto de 1935 onde viu a sua imagem a ser reproduzida infinitamente para que os colonos da metrópole conhecessem aqueles que colonizaram.
Estas mulheres corporizavam o próprio continente Africano e o domínio colonial secular Português sobre ele. Aqui o binário era incutido nas mentes das pessoas: África era a mulher selvagem, uma anomalia e Portugal era o homem, aquele que salva, que coloniza e domina.
O colonialismo português no final do regime fascista perpetuou através das imagens destas mulheres ideias e preceitos que estão presentes na sociedade até aos dias de hoje, cimentando na ainda mais na sociedade um racismo e machismo vigentes.
A popularização e democratização do processo fotográfico no contexto colonial Português dos finais do séc. XIX fez com que pessoas colonizadas, especialmente mulheres negras, se tornassem centrais nos registos de representação e mapeamento do mundo, sendo que as imagens destas pessoas eram reproduzidas de forma ávida em jornais, periódicos, álbuns pessoais e postais que eram enviados para a metrópole.
VICENTE, Filipa Lowndes. ‘Black Women’s Bodies in the Portuguese Colonial Visual Archive (1900-1975)